top of page

Tecnologia

A tecnologia a serviço da comunicação comunitária

Apesar da chegada da internet, faltam investimentos na tecnologia local

Representante comunitário diz que a maior felicidade é poder ajudar através do projeto social/ Foto: Cindy Lima

Por Priscila Pedroso e Anny Momjian

"Sadan do Bem." Assim é conhecido Edivaldo Andrade, morador do bairro Taquacetuba, no Pós-Balsa, em São Bernardo do Campo. Após a travessia pela Balsa João Basso, a equipe de reportagem da “De Passagem” inicia a busca pelo incentivador de projetos tecnológicos na região.

O trajeto de trinta e cinco minutos se torna curto quando há possibilidade de apreciar belas paisagens e animais. Nem mesmo a lama posterior as chuvas de verão são capazes de destruir a empolgação dos moradores quando perguntados sobre Sadan.

“Todo mundo conhece o Sadan”, “O Sadan é demais” e “Ele é uma pessoa que me ajudou muito”, são algumas das falas dos moradores que aguardam o transporte público e nos guiam até o destino final.

Seguimos as orientações dos moradores e após onze minutos de percurso avistamos a famosa padaria amarela. O local, chamado de “Panificadora Sonho de Criança” também dá nome a Creche e Bazar administrados por Edivaldo.

Ao entrar no local é possível compreender o motivo do apelido “Sadan”, a barba do proprietário não nos deixou com dúvidas. Sadan conta como surgiu a ideia de realizar trabalhos sociais. Ele explica que era mecânico diesel e não possuía recursos financeiros para iniciar o projeto, mas nem por isso deixava de fazer a sua parte.

“Nos anos 1995 e 1996 tirava o meu salário para comprar cestas básicas e distribuir pela comunidade. Depois percebi que ao invés de distribuir cestas eu deveria buscar algo maior, como conseguir emprego para os moradores da região”, diz.

Assim, Sadan construiu em um dos seus terrenos a Creche Sonho de Criança, que atualmente atende 49 crianças do Pós-Balsa. O local possui caixinhas de correio, refeitório, salão de cabeleireiro, biblioteca e dois espaços muito importantes para os moradores da região, as salas dos projetos “Acessinha” e “Acessa SP”.
Os projetos foram criados pelo Governo do Estado de São Paulo com o intuito de realizar a inclusão digital do Estado. Para o Pós-Balsa a iniciativa é novidade, visto que os moradores não eram habituados a ter acesso a tecnologia.

 

“A internet daqui é ruim, hoje conseguimos fazer esse projeto porque a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (PRODESP) instalou uma antena que fornece sinal, algo que antes não tínhamos”, conta.

​

Os dois projetos são gratuitos e não atendem apenas a região do Pós-Balsa. Sadan conta que moradores de Diadema e Santo Amaro costumam visitar o local. As crianças são o público predominante e o “Acessinha” não tem objetivo de servir apenas como diversão.

“O projeto visa a inclusão digital para crianças entre 4 e 11 anos. A colaboradora, que é da região, faz a reciclagem na PRODESP. Aqui não ensinamos a ler e escrever, fazemos o contrário da escola”, diz.

A sala do “Acessinha” é decorada com tapetes coloridos em EVA e conta com tablets, computadores e videogames. O local é atrativo aos pequenos que não vêem a hora de sair do colégio e virem para o projeto.

A moradora Marlene, que também é auxiliar de classe na Creche, conta que o Projeto Acessinha foi um dos acontecimentos mais importantes na vida da filha de
oito anos.

“A minha filha passa mais tempo aqui do que em casa. Ela adora o projeto e pede para vir aqui até mesmo nos sábados, quando está fechado. Quando ela nasceu, o Sadan foi buscá-la no hospital, então ela também adora o “tio” Sadan”, conta.

A ideia de inclusão digital também beneficia o público maior de 12 anos através do Projeto “Acessa SP”, o mesmo que existe no Poupatempo de São Bernardo. No projeto, os participantes podem realizar diferentes atividades.
Segundo Sadan, não saber utilizar o computador e não ter a companhia dos filhos para ensinar os pais não é motivo para deixar de ter acesso a internet. As colaboradoras auxiliam os internautas em diversas tarefas, como marcar horários no Poupatempo, realizar impressões ou redigir textos.

No projeto, a criança também tem a possibilidade de utilizar a internet sem a companhia dos pais. “Os responsáveis devem fazer o cadastro da criança para que ela pode vir sem os pais, mas trazendo o RG. Assim, liberamos a máquina e eles podem utilizar”, finaliza.


 

O espaço Acessinha é um dos motivos de alegria dos moradores do bairro Taquacetuba." Foto: Priscila Pedroso

Exclusão Tecnológica

 

Não é uma das tarefas mais fáceis imaginar que dentro de uma cidade desenvolvida como São Bernardo do Campo, possa existir uma região que não detém de bens básicos de vida.

 

A região do Pós-Balsa carece de políticas públicas, incentivo econômico e tecnologia. Segundo o professor de informática Junior Suassuna, que ministra aulas no bairro Santa Cruz, a região ainda sofre com a falta de tecnologia.

 

“A comunidade é carente, com muitos índices de dificuldades. Por se tratar de um lugar de difícil acesso, no meio da Mata Atlântica, os moradores sofrem com o sinal telefônico e redes de Internet. Muitos têm celulares e poucos têm computadores em casa”, explica.

 

Segundo a socióloga francesa Léa Mongeolle, é necessário observar os transtornos que a exclusão social pode trazer a sociedade.

 

“A exclusão tecnológica vai gerar desigualdades sociais porque um indivíduo que tem acesso à tecnologia vai ter mais acesso às notícias e a sua rede social”, explica.

 

Apesar dos poucos recursos tecnológicos, a Prefeitura de São Bernardo está investindo na distribuição de “netbooks” para os colégios da rede municipal. Até o momento foram distribuídos 15 mil unidades no município.

 

Segundo Suassuna, é possível dizer que a região está em avanço no quesito tecnológico.

 

“Até o momento venho vendo avanço principalmente dos alunos. Com o trabalho com da Educação de Jovens e Adultos (EJA) trabalhamos as necessidades como currículos, e-mails, pesquisas, agendamentos construção de habilidades básicas. Também o avanço quanto ao uso dos professores como ferramenta de trabalho”, conclui.

Gambiarras Elétricas

 

Fios desencapados, oscilação de voltagem,choques elétricos e perigo constante. Essas são algumas das características de um local onde as gambiarras elétricas são comuns, a região do Pós-Balsa.


A explicação para a prática é uma matemática simples. Segundo os dados do IBGE aproximadamente 23 milhões de pessoas estão desempregadas no momento.

 

A falta de dinheiro faz com que as famílias prefiram métodos considerados incomuns para ter energia, internet e TV como o “gato”, que se trata de uma ligação clandestina destinada a furtar energia e sinais de áudio e video.

 

Poucas pessoas sabem que realizar essa prática é um crime previsto no Artigo 155 do Código Penal Brasileiro. Quem não seguir a lei, pode ser condenado a uma pena que varia de um a quatro anos de reclusão além de pagar uma multa.

 

"Gambiarras elétricas nos postes de luz são comuns na região" Foto: Cindy Lima

O eletricista Rubens Pedroso vê o ato como irresponsabilidade “as pessoas que fazem os “gatos” não são capacitadas e usam materiais inadequados”.O

profissional também alerta sobre os perigos para a rede elétrica. “Um exemplo disso, é troca do tamanho dos fios, característica que aumenta os riscos de incêndios."

 

O morador do bairro Santa Cruz, André Oliveira conta que além de existir as ligações para puxar energia, o que assegura uma energia a custo zero, poucos moradores tem internet e Tv paga dentro de casa, o que motiva o “gato” para garantir o acesso.

bottom of page