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Economia

Crise também afeta o comércio do pós-balsa

Mesmo com a  crise econômica, pequenos comércios dominam a região

Andreia Batista, a frente, juntamente com sua mãe, na lanchonete em que é proprietária na região/ Foto: Revista De Passagem

Por Mirelle Souza e Cindy Lima

Um lugar simples, com pessoas simples, cercado de mata e de uma população disposta a valorizar e investir na região em que moram ou têm um comércio, esse é o pós-balsa. O comércio de bairro tem uma importância muito grande para o desenvolvimento da região que está localizado. Contribuem para emprego e renda de moradores, os quais adquirem produtos próximo de sua residência. Geralmente o contato que se tem entre comerciante/consumidor é bem forte, muitas vezes o comerciante se torna amigo das famílias da região e conhecem os clientes pelo nome.

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As pessoas da região que pretendem investir no lugar, podem se focar em tentar entender a área comercial escolhida, buscando produtos que possuem uma demanda maior neste bairro, e levando em conta as características socioeconômicas da região, para não apostar em um produto que fuja das condições financeiras da população.

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Todo comerciante sabe que a decisão de abrir um negócio, muda toda a rotina. Quando se dá o primeiro passo, muita coisa pode ser deixada para trás, como um salário fixo, folga, pouca preocupação. É o caso da comerciante Andréia, que era gerente em uma loja no Morumbi e há seis anos montou a lanchonete no bairro Santa Cruz, "Eu gastava 8 horas pra ir e vir, pegava oito ônibus, trabalhava sete horas, gastava mais tempo indo e vindo do que no próprio trabalho. Depois de um tempo que tive meu filho, comprei um trailer e coloquei aqui na calçada e tudo começou a partir desse trailer. Meu patrão do Morumbi me chamou de volta pra ganhar três vezes mais, mas falei que não valia a pena."

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Andreia também viu uma oportunidade de negócio ao decidir abrir às segundas-feira dia que a maioria dos estabelecimentos estão fechados. No começo ela não abria na segunda-feira, mas  muitas pessoas a procuravam porque não tinha um lugar diferente para comer. De acordo com a comerciante, a decisão de abrir as segundas foi até melhor do que abrir aos sábados. Essa foi a estratégia que Andreia usou para contornar a atual crise que o comércio enfrenta.

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O professor de economia do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal Alfenas (UNIFAL-MG), André Luis Campedelli, afirma que o setor alimentício foi um dos que mais sofreu com o aumento dos preços. "Os alimentos foram os principais vetores inflacionários da economia brasileira, no primeiro semestre, devido a problemas climáticos ocorridos durante o ano de 2015 e no início do ano de 2016. É natural que exista uma elevação dos preços dos alimentos neste ano, que se reflete no comércio como um todo."

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​"Caiu bastante as vendas, acho que o povo tá endividado devido a crise. Aqui no mercado, me baseio no preço que eu pago as mercadorias, compro e coloco minha margem em cima, independente da onde eu pego." Fabiana Marinho, dona do mercado Beatriz no bairro Tatetos.

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"Tenho os meus cliente fixos, mas com a crise o movimento diminuiu. Meus lanches são os mais baratos, eu aumento R$0,50 centavos uma vez por ano, vai crise vem crise, alface sobe e desce, tomate também, e eu seguro o valor porque não acho legal aumentar o preço assim." Andreia, proprietária da lanchonete no Santa Cruz.

 

"O movimento aqui é fraco, é uma vila pequena, tem vários comercioszinhos, e os clientes são poucos. A época que dá pra gente arrecadar mais um pouco é época de pagamento e vale, começa melhorar um pouco, mas é para dividir em todo bairro, então é muito devagar." Cicero Berto da Silva, dono do armazém Vitória, no bairro Santa Cruz.

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Driblando a crise

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Na manhã do dia 22 de outubro, um sábado, era dia de feira, a primeira da região pós-balsa, localizado no Santa Cruz, que vai atender todos os bairros. De acordo com o feirante Marcio Ferreira da Silva, 24, a iniciativa surgiu dos próprios moradores que sentia falta de frutas e verduras frescas e com preço mais acessível que os mercados locais.

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A princípio a feira conta com seis barracas, que funcionam aos sábados das 7h até às 13h. De acordo com Márcio, que é feirante há 15 anos, as frutas vem do Ceasa e não há distinção de custo comparado a outras regiões, "O preço é o mesmo da feira em outro lugares. Pode ver que é tudo R$1,00. Nós não aumentamos porque sabemos que a comunidade aqui é simples, não precisa aumentar o preço, não adianta aumentar. O pessoal está gostando muito."

Feirantes tentam conquistar moradores com preços atraentes / Foto: Revista De Passagem

Novas Iniciativas

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Tirando o foco de comércios mais tradicionais, Angélica de Oliveira Chavez, 27, que é tatuadora há quatro anos, notou a oportunidade de abrir o único estúdio de tatuagem da região do pós-balsa e decidiu sair de São Paulo para arriscar um novo negócio no bairro Santa Cruz. Com experiência de trabalho em estúdios de São Paulo, a tatuadora abriu há seis meses o estúdio, 'Angel Tattoo Bore Art'.

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Com preços que variam de R$50 a R$250, o trabalho de Angélica vai desde uma tatuagem simples até sessões mais trabalhadas como o 3D. "A procura no começo demorou um pouco, mas ai entrou no facebook e o pessoal começou chegar, vê o trabalho e gostou. Temos uma página no face, a gente divulga pela página e o pessoal que já veio aqui acaba retornando e indicando um amigo", disse.

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Novos comércios e os que já existem, estão ligados com a economia da cidade como um todo. Tudo está conectado entre si. Portanto, a economia gerada nos diversos bairros da cidade afetam a economia geral do município, e o que ocorre economicamente, consequentemente, afeta os bairros. Além disso, quem faz essa escolha está participando da transformação na vida de pessoas, que se dedicam ao trabalho de uma forma diferenciada. Tem uma história atrás do balcão e o personagem principal é mais que alguém que montou o negócio por ser um investimento em algo rentável.

Angélica de Oliveira Chávez inovou ao abrir primeiro estúdio de tatuagem do Pós Balsa / Foto: Revista De Passagem

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